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quarta-feira, 29 de maio de 2024

CRÔNICA

Dona Carmem (E), a neta Lívia, a bisneta Lalá e o Véio quando era mais novo


O DIA DE DOMINGO

Nenhum dia de domingo é igual a outro. Tem domingo que chove. Outro que faz sol. Mas mesmo sendo inesperado, é um domingo que pede praia, pelada (futebol com amigos), churrasco e cerveja gelada. Tudo igual em qualquer estação do ano.
Aos 73 anos de idade, não lembro mais qual foi o meu melhor domingo quando moço e solto no mundo. Foram tantos e tão inesperados que acabei esbarrando em dona Carmem e, no fechar e abril de olhos, estávamos casados.
Há 40 anos atrás, os meus domingos eram diferentes com dona Carmem. Não tinha rotina chata e cansativa. A idade ajudava a sermos menos exigentes com a saúde mental. Preocupação zero.
Praias, caminhadas, viagens curtas, almoços com a família e um cineminha quando o filme era legal. Dona Carmem com 37 aninhos. Eu, com 32. Enamorados e ocupados demais em sermos felizes nos domingos de qualquer estação do ano.
Domingos que nos satisfaziam plenamente. Sem exigências, sem pressa, sem preocupação com a saúde mental. Diferentes dos nossos domingos em casa - sem praias, caminhadas, viagens curtas, almoços com a família e cineminha.
Uma rotina que nos leva a repetir tudo que fizemos no dia anterior. E quase sempre esquecidos do que prometemos não repetir. A saúde mental vira preocupação quando esquecemos algo que não se repete como estímulo do cérebro saudável.
Aí cada domingo, em casa, transforma-se naquela segunda-feira de rotina pesada de tarefas e obrigações que não acabam mesmo quando estamos dormindo. Um tormento sem fim!
Com a senilidade de dona Carmem e a minha paciência no limite, tento ocupar a cabeça com coisas boas, úteis e capazes de dar um upgrade no meu otimismo. Quero continuar sonhando com os bons domingos que vivemos outrora.
Difícil? Nem tanto. Basta silenciar nas contrariedades. Dançar ouvindo as músicas que marcaram a nossa relação. Balbuciar frases de amor eterno. Sorrir e viver cada domingo como se fosse o último.
Sem medo de perder um pouco a rigidez da razão e enlouquecer momentaneamente, libertando-se da obrigação de ser bonito, saudável e puro como um anjo esculpido por Aleijadinho. Quero viver, assim, meus últimos domingos com dona Carmem.


Por Carlos Barros Filho I Imagem Arquivo Pessoal

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