Mentir dá muito trabalho...
Carlos Barros Silva I jornalista1938fenaj@gmail.com
Diz o ditado popular que “mentira tem perna curta”. Mas, na verdade, além de curta, a mentira é, eticamente, comprometedora. Exige esforço, exige memória, exige construção constante de narrativas que nem sempre se sustentam no tempo. Em resumo: mentir dá trabalho. Muito mais do que dizer a verdade.
Quem mente precisa manter viva uma história inventada, cuidar para não se contradizer, ficar atento às perguntas e reações, e ainda suportar o risco constante de ser desmascarado. A cada nova versão, uma nova tensão. A cada detalhe omitido ou distorcido, um novo desgaste. O mentiroso vive sob pressão, mesmo que finja tranquilidade. A verdade tem a leveza da espontaneidade; a mentira carrega o peso da encenação.
Mentir dá trabalho nas relações pessoais, nas instituições e, sobretudo, na política. Um discurso falso pode até seduzir no primeiro momento, mas com o tempo cobra um preço alto. Promessas feitas sem intenção de cumprir exigem justificativas elaboradas. Meias verdades exigem omissões estratégicas. A mentira, por mais bem contada, é como um castelo de cartas: uma hora cai.
No ambiente familiar, a mentira fragiliza laços. Pais que mentem para os filhos, casais que se escondem em desculpas, irmãos que evitam o confronto com a verdade – todos vivem relações adoecidas. Já no mundo profissional, o mentiroso pode até ter sucesso momentâneo, mas dificilmente conquista respeito duradouro. A confiança é uma ponte que leva tempo para ser construída e um segundo para ser destruída.
Do ponto de vista ético, mentir é abrir mão de um valor essencial à convivência humana: a honestidade. Não se trata apenas de ser “politicamente correto”, mas de manter a dignidade no trato com o outro e consigo mesmo. A verdade pode ser difícil, pode até doer, mas liberta. A mentira, ainda que pareça proteger, aprisiona.
Vivemos tempos em que as fake news e a manipulação da informação transformaram a mentira em instrumento de poder. Há quem minta com estratégia, frieza e convicção. Mas mesmo os maiores enganadores não escapam do desgaste emocional e moral que esse jogo provoca. O trabalho de sustentar uma mentira pública é tão gigantesco quanto o dano que ela causa à sociedade.
Em contrapartida, a verdade, ainda que incômoda, exige menos manutenção. Não precisa ser lembrada, pois é vivida. Não precisa ser sustentada por outras mentiras, pois é autossuficiente. Viver com verdade é viver com simplicidade e clareza.
Portanto, antes de inventar uma mentira, pense no custo emocional, no desgaste mental e na energia que será necessária para sustentá-la. A verdade pode exigir coragem, mas a mentira exige uma performance contínua. E, convenhamos, não vale o esforço.
Um comentário:
Mente-se descaradamente desde que o Brasil era colônia da Coroa Portuguesa. Com o passar dos séculos, a mentira foi ficando coloquial e refinada no trato político, social e religioso. No Brasil, quem não mente, rouba... E quem rouba, jura em nome da própria mãe e de Deus que é inocente até que um bom advogado prove o contrário. Moro na capital federal onde abriga os mentirosos mais cínicos dentre alguns que circulam nos bastidores palacianos dos três poderes.
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